OS VELHOS

Todos nasceram velhos - desconfio.
Em casas mais velhas que a velhice,
em ruas que existiram sempre - sempre
assim como estão hoje
e não deixarão nunca de estar:
soturnas e paradas e indeléveis
mesmo no desmoronar do Juízo Final.
Os mais velhos têm 100, 200 anos
e lá se perde a conta.
Os mais novos dos novos,
não menos de 50 - enorm'idade.
Nenhum olha para mim.
A velhice o proíbe. Quem autorizou
existiram meninos neste largo municipal?
Quem infrigiu a lei da eternidade
que não permite recomeçar a vida?
Ignoram-me. Não sou. Tenho vontade
de ser também um velho desde sempre.
Assim conversarão
comigo sobre coisas
seladas em cofre de subentendidos
a conversa infindável de monossílabos, resmungos,
tosse conclusiva.
Nem me vêem passar. Não me dão confiança.
Confiança! Confiança!
Dádiva impensável
nos semblantes fechados,
nos felpudos redingotes,
nos chapéus autoritários,
nas barbas de milénios.
Sigo, seco e só, atravessando
a floresta de velhos.
Carlos Drummond de Andrade, in "Boitempo"

1 comentários:

Silvana Soraia

sim senhora!grande trabalho, é bom saber que há gente que se preocupa com os idosos, embora seja um tema muito comum, merece ser sempre relembrado pois trata-se de pessoas.
espero que continuem com esse espírito e que continuem a ser criativos,pois eles merecem, momentos de alegria. Ser solidário é um dos deveres de cada cidadão, e vocês(João,Catarina, Ana,Cristina e Carla) acho que estão a cumprir esse dever de forma detalhada com carinho perante os idosos.Parabéns pela iniciativa e continuem assim:)

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